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3º turno: é preciso desbolsonarizar o Brasil

Passada e euforia da vitória, é o momento de colocar os pés no chão, analisar os números e os atos golpistas protagonizados pelo fanatismo bolsonarista.

Lula ganhou a eleição em uma epopeia democrática, vencendo o abuso de poder econômico, o assédio, a violência, o medo e todo tipo de bizarrice da extrema direita.

Apesar do heroísmo e da força popular da campanha gloriosa de Lula, os números indicam uma vitória apertada. No 1º turno, o PTista saiu das urnas com uma vantagem de 6.187.159 votos e no 2º turno caiu para 2.139.645 votos.

Observe especialmente os números de Jair Bolsonaro entre o 1º e o 2º turno. Ele partiu de 51.072.345 para 58.206.354, obtendo um crescimento de 7.134.009.

Lula saiu de 57.259.504 para 60.345.999, totalizando 3.086.495 a mais.

1º turno

Lula 48,43%57.259.504
Bolsonaro 43,20 %51.072.345
Diferença: 6.187.159

2º turno

Lula 50,90%60.345.999
Bolsonaro 49,10%58.206.354
Diferença: 2.139.645

Reitero o que disse no texto anterior. A vitória “apertada” foi uma epopéia diante do contexto da eleição.

No entanto, é preciso refletir sobre o bolsonarismo. Na minha modesta opinião, haverá uma desidratação do eleitor de Jair Bolsonaro, principalmente se o terceiro governo Lula for exitoso.

Os bloqueios nas rodovias estão diminuindo, a equipe de transição já está funcionando, Lula costura apoios no Congresso Nacional e o governo tem tudo para dar certo.

Mas, é preciso ver a realidade além da torcida. A mentalidade bolsonarista veio para ficar e um dos desafios do campo democrático-popular é “desbolsonarizar” o Brasil.

Imagem destacada / Bolsonaristas fazem saudação nazista em Santa Catarina / Foto: Reprodução

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O amor venceu a máquina e o medo

Nunca antes na História do Brasil se viu uma eleição entre forças tão díspares.

De um lado, a candidatura de Jair Bolsonaro reuniu toda a máquina do Estado para atropelar o adversário.

O governo pôs em jogo a bilionária derrama de dinheiro do orçamento secreto, os diversos auxílios, o empréstimo consignado para antecipar o Auxílio Brasil, o aparelhamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a gigantesca rede dos setores empresariais urbanos e rurais agregada por parlamentares beneficiários dos favores e benefícios do Palácio do Planalto.

Fora da máquina oficial, a campanha suja de Jair Bolsonaro incorporou o assédio dos patrões contra empregados, o crescimento da rede de desinformação e a violência explícita nos atos bizarros de Roberto Jefferson e Carla Zambeli.

Todo esse conjunto de ações constituiu a maior máquina de abuso do poder econômico, violência e mentira nas eleições de todos os tempos no Brasil.

 De outro lado, Lula, em uma campanha feita de forma propositiva e verdadeira, austera quando necessário, mas sem perder a ternura.

O amor, a verdade, o legado e a herança dos governos do PT levaram Luis Inácio Lula da Silva a uma vitória gloriosa, coroada pela força do povo, que enfrentou todos os tipos de arbitrariedade e abusos para votar, mesmo diante de toda a violência do aparelho do Estado e dos fanáticos bolsonaristas movidos pelo ódio.

A vitória se concretizou também com o mar de gente tomando as ruas sem medo de ser feliz.

Sabemos que a vitória, em termos numéricos, foi apertada. Mas, vendo o contexto da disputa, a eleição de Lula foi uma grandiosa epopeia democrática.

Imagem destacada / Foto de Lula tendo ao fundo a bandeira do Brasil / capturada no site do PT

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Plataformas digitais não podem ser trampolim para levantes contra a ordem democrática

Entidades divulgam carta aberta reiterando a necessidade das plataformas digitais atuarem de maneira combativa e NÃO como trampolim para ataques à ordem democrática.

Após o segundo turno das eleições, as redes sociais têm sido utilizadas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro como canal para articulação de tentativa de golpe contra o sistema eleitoral e pedido de intervenção militar, o que fere o pleno exercício da democracia.

Por isso, neste momento as plataformas devem assumir sua responsabilidade e garantir um ambiente informacional em que prevaleçam os princípios democráticos.

Antes do segundo turno, a Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD Brasil) divulgou documento  para as plataformas, com mais de 300 signatários, entre instituições e pesquisadores, denunciando a falta de ação das plataformas para coibir a desinformação.

Durante o pleito eleitoral pouco foi feito e as reivindicações continuam.

Veja abaixo o documento:

Plataformas digitais não podem ser trampolim para levantes contra a ordem democrática

Passadas as eleições presidenciais, o Brasil entra no período de transição de governo e todas as instituições democráticas, inclusive as empresas de comunicação, têm grande responsabilidade em garantir que a vontade popular seja respeitada. Desde domingo (30), entretanto, as plataformas digitais abertas e fechadas têm sido inundadas por conteúdo de incitação contra a ordem democrática, com chamados à sublevação e pedido de intervenção militar. Elas têm sido notificadas de tal conteúdo, mas as ações de moderação têm sido mínimas ou inexistentes.

Como já foi apontado pelas 116 entidades signatárias do documento “O papel das plataformas digitais na proteção da integridade eleitoral em 2022”, possíveis respostas imediatas das plataformas no período eleitoral continuam sendo extremamente limitadas para lidar com o problema que o país enfrenta.  

Mesmo as empresas que têm políticas de integridade cívica ou eleitoral, criadas especificamente para impedir chamados à agitação civil contra a ordem democrática ou à interferência na transmissão pacífica de poder – incluindo aí as atualizações realizadas por Twitter e YouTube no dia 31/10 -, não têm aplicado de maneira diligente o que prometem. Muitos conteúdos chamando para atos antidemocráticos continuam circulando com alta visibilidade, amplificados por influenciadores digitais com alto número de seguidores.

Considerando as políticas em curso, entendemos que as plataformas devem tomar medidas em face de todos os conteúdos e canais que, ao alegarem infundadamente fraude eleitoral ou teorias conspiratórias inconstitucionais, causam danos ao processo eleitoral – além de trazerem riscos significativos de uso de violência. Trata-se de interpretar suas políticas de maneira condizente com o contexto brasileiro, permitindo uma ação imediata em face destes conteúdos e canais.  

No caso das plataformas que até hoje não desenvolveram políticas para crises desta natureza – o que é ainda mais preocupante –, elas precisam ser criadas e implementadas. Da mesma forma, ao serem acionadas pelo Judiciário, devem ser rápidas em atender demandas.  

Ao ignorarem e se omitirem diante da massiva distribuição de conteúdos que atacam o sistema eleitoral e incitam a violência, tais empresas estão funcionando como trampolim para ações antidemocráticas, inclusive obtendo lucro financeiro com esse tipo de conteúdo. Cabe a elas, agora, adotar medidas efetivas, cumprir determinações judiciais e prestar contas das ações empregadas e seus resultados. Esta transparência é essencial para que a sociedade e autoridades identifiquem o que está sendo feito neste momento perigoso de levante contra a ordem democrática.

A situação pós-eleitoral no Brasil de mobilizações que contestam de forma absolutamente infundada o resultado eleitoral não tem paralelo em nossa história recente, ainda que haja esforços relevantes das instituições brasileiras para contê-las.  

Cabe lembrar que, de acordo com a Lei do Estado Democrático de Direito (Lei Nº 14.197, de 2021), é crime “tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais”, “tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído” e “impedir ou perturbar a eleição ou a aferição de seu resultado, mediante violação indevida de mecanismos de segurança do sistema eletrônico de votação estabelecido pela Justiça Eleitoral”.

Neste momento chave, as plataformas devem assumir sua responsabilidade de garantir um ambiente informacional em que prevaleçam os princípios democráticos, e agir para que não sigam sendo utilizadas como promotoras de ações de sublevação contra a democracia brasileira.

Brasil, 02 de novembro de 2022.  

Coalizão Direitos na Rede

Rede Nacional de Combate à Desinformação

Coalizão em Defesa do Sistema Eleitoral

ABI – Associação Brasileira de Imprensa

ABJD – Associação Brasileira de Juristas pela Democracia

AJD – Associação Juízes para a Democracia

AlafiaLab

Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé

Centro Popular de Direitos Humanos

Conectas Direitos Humanos

Coding Rights

Demos – Observatório para monitoramento dos Riscos Eleitorais no Brasil

Diracom – Direito à Comunicação e Democracia

Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas

Instituto Cultura e Democracia

Instituto E se fosse você

Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social  

Instituto Update

Instituto Vladimir Herzog

Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social

Mediars

Netlab-UFRJ

Novelo Data

Open Knowledge Brasil

Oxfam Brasil

Sleeping Giants Brasil

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Lula conversa com o presidente dos Estados Unidos

O presidente eleito conversou com Joe Biden sobre democracia, meio ambiente e cooperação entre os dois países

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, conversou por telefone com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na tarde desta segunda-feira (31/10). Na conversa que durou 20 minutos, os dois presidentes trataram de temas essenciais, como a importância da democracia, da preservação do meio ambiente e sobre com ampliar a cooperação entre os dois países.

Na noite de domingo, após o resultado das eleições e a divulgação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o presidente norte-americano já havia parabenizado Lula pela vitória, por meio das redes sociais. No Twitter oficial, o presidente escreveu: “Envio os parabéns a Luiz Inácio Lula da Silva pela vitória em uma eleição livre, justa e digna de confiança. Espero que possamos trabalhar juntos e manter a cooperação entre nossos dois países nos próximos meses e anos que virão pela frente”.

Imagem destacada / Ricardo Stuckert

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O voto e a saudade

Eloy Melonio é professor, escritor, letrista e poeta.

Oi, pessoal!

Saudações a todas, todos, e todos os outros todos.

Eu sou José Eleitorino, um eleitor com muitas eleições nas costas, igualzinho a tantos outros que vocês veem por aí.

Mesmo não sendo mais obrigado a votar, não deixo de exercer esse direito fundamental. Para mim, o voto é sagrado. Gostem ou não das minhas escolhas, não abro mão delas. Já ganhei e já perdi muitas vezes nessa dança democrática.

Nestas eleições, os candidatos são os grandes artistas. Quase não ouço mais falar de Lulu Santos, Fernanda Montenegro, Tony Ramos & companhia. Ligo o rádio, e lá estão eles, falando. Na tevê: antes, depois e no meio das novelas. Dia desses sonhei conversando com o meu candidato. E confesso que já estou com saudade da campanha eleitoral que está acabando hoje — sexta-feira, 28.

São 19h30. Quero aproveitar tudo da propaganda na tevê. Cada informação, cada declaração. Ah, e eu não posso perder as últimas invocações ao Ser supremo (nada a ver com aquele sediado em Brasília). Porque — “nunca antes numa campanha” — Deus esteve acima de tudo e de todos. Ainda bem que Ele está lá em cima, não é mesmo? Sem contato direto com os candidatos aqui embaixo. É que — nessa confusão polarizada — a coisa não tá pra qualquer santinho não.

Depois dessa eleição, só daqui a dois anos. Se Deus quiser! E Ele vai querer, sim, porque — querendo ou não — já é personagem dessa comédia há um bom tempo.

Foram dias ricos de teatralização: lágrimas, olhares e sorrisos carinhosos, acenos com uma ou as duas mãos. E “vozes” prometendo mundos e fundos. 

A campanha eleitoral é tudo de bom. E, diferente da poesia do coletivo, é todo mundo “junto e separado”. Mesmo assim, como diz o roqueiro, “A gente se dá bem e não desejamos mal a quase ninguém”. Isso é que é sinceridade, atitude rara na política.

Nesta campanha, o Oscar vai para a dupla “falar/dizer”: Tu falaste. Eu não disse. Eles dizem que falaram. Está dizendo que vai falar. Por que você não fala e diz a verdade?

E, assim, a política se faz e se refaz com o espírito expressivo da palavra. Falar é dizer. Dizer o que é, o que não é. Porque “falar” é a cara dos políticos, não é verdade? E tem tudo a ver com o sentido enigmático da promessa e a roupa fantasiosa da esperança. Falar é cantar como vai ser o samba do nosso destino, dizer que vão pintar um novo céu com o azul da bandeira. Coisas da cena política, como dizia meu pai.

Mas “falar ou dizer” nem sempre significa “afirmar”. Muitas vezes é apenas falar, apenas dizer. O não-dito esconde uma mentira; o dito pode ser calúnia, injúria. Entre um e outro, “fico com a resposta das crianças”. Mas crianças não votam! Ah, que pena! Então, esquece.  

Na letra do samba-enredo político, o destaque da campanha foram (e sempre serão) os pobres. “Olha eles aí, gente!” Sem os pobres, a disputa não teria a graça de sempre. Nunca os pobrezinhos foram tão prestigiados. Abraços e mais abraços. Beijos nos velhinhos e nas criancinhas.

Empobrerados, tiveram espaço e voz em todos os momentos. Nunca vi tanto pobre falando na tevê. Acho até que alguns ganham um cachêzinho. Isso não é chiquérrimo?! E necessário, porque quanto mais pobres na roça, melhor a colheita.

Nessa enxurrada de pobres, todos são bem-vindos: os antigos, os novos, os que ainda vão entrar nas estatísticas. De sua história, o ponto positivo é que eles acreditam piamente nas promessas. 

Sempre achei que o pobre é um ser diferenciado. Mesmo com a mesa e o bolso vazios, não perde a esperança. E olha que essa palavrinha mágica cai bem na barriga do faminto, do sem-teto, do sem-nada. E nas intenções dos candidatos.

Que tal uma vezinha para a fome? Porque pobre e fome dão samba. Aonde um vai, o outro vai atrás. A fome alimentou a campanha e esquentou o debate. Porque é com a fome de muitos que enchem suas sacolas.

Tão antiga quanto a fome e os pobres é a política do “pão e circo”, ainda viva nestes tempos paradoxais. Enquanto a fome sobrevive, os pobres sofrem para sair do gueto da vergonha nacional.

Outra coisa extremamente pobre nesta campanha é que tudo pode e tudo serve. Amigos trocando insultos nas redes sociais. Muita gente acordando com essa ansiedade de compartilhar o último post de cunho político-ofensivo. Frases de efeito para atingir o outro. Material quentinho, cozido nos porões da campanha, é repassado a cada hora. Isso porque cada um acha que o seu candidato é o mais santo, o menos corrupto — se é que isso existe. E, nesse fluxo, o outro sempre é isso e aquilo.

A campanha revela quem são os parceiro da hora. Aliados do bem e do mal. Porque são a prova de que reconciliação e paz é possível na política. Mesmo que isso possa parecer uma grande farra.

E, para coroar a festa da democracia, o debate. Só acho que esse capítulo deveria ficar nos intervalos da novela. Porque há momentos em que ficção e realidade parecem falar a mesma língua, pois a política também é uma “travessia”.

22h45. Preciso parar por aqui, pois o debate já vai começar. Não sem antes dizer que já estou pensando na campanha de 2024.

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Homenagem ao time de Lula

Um brinde a você que sobreviveu à longa noite fascista que se instalou no Brasil, desde 2016;

Um brinde a você que foi chamado de petralha, comunista, apenas por ter demonstrado apreço à democracia e à liberdade;

Um brinde a você que inúmeras vezes foi ameaçado e ironizado nas redes sociais;

Um brinde a você que não desistiu de lutar, mesmo quando toda a massa ignara e a grande imprensa insistia no seu discurso neo-fascista;

Um brinde a você que, pra se preservar, cortou laços com tantas pessoas com quem tinha ,antes da grande noite , um convívio sadio;

Um brinde a você que não bebeu da fonte do ódio que se espalhou pela Nação, disfarçada de justiça;

Um brinde a você que descartou o rótulo de “cidadão de bem”, enquanto milhões perdiam os direitos previdenciários e trabalhistas;

Um brinde a você que sempre foi solidário com a parcela mais frágil da sociedade;

Um brinde a você que se indignou diante das tragédias ambientais;

Um brinde a você que se entristeceu diante da verdadeira chacina que foi a pandemia de Covid;

Um brinde a você que sempre acreditou na Ciência, na vacina e não na cloroquina;

Um brinde a você que não se curvou aos falsos profetas, disfarçados de Messias;

Um brinde a você que nunca abriu os dedos das mãos pra fazer gesto de “arminha”;

Um brinde a você que resistiu, mesmo, quando milhões acreditavam no falso mito;

O percurso será longo e duro para reconstruir tudo o que destruíram, mas um brinde a você que acreditou que a primavera chegaria.

Imagem destacada / Multidão na Avenida Paulista comemora a vitória do candidato do PT | Foto: Ricardo Stuckert

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Trabalhadores(as) do Colun/UFMA divulgam Manifesto pela Democracia, com Lula no 2º turno

Servidores(as) do Colégio Universitário consideram que o “momento exige combater a política de ódio e violência representada pelo atual governo e que, para superar essa página triste e infeliz da nossa história, devemos eleger Lula no segundo turno”.
Confira o manifesto:

MANIFESTO DE SERVIDORES(AS) DO COLUN/UFMA

PELA DEMOCRACIA, COM LULA NO 2º TURNO

Fonte: Site da Apruma (Associação dos Professores da UFMA)

Atravessamos um contexto no Brasil de profunda crise econômica, política e social. São cenários de violências de todas as dimensões, representadas pela mortes e agressões fruto de intolerância e preconceito; fome e miséria causadas pelo desastre da atual política econômica brasileira; desemprego e retirada de direitos trabalhistas que segue uma lógica ultraliberal; destruição da floresta amazônica através de ações criminosas dos aliados do atual presidente da república.

Na Educação Pública foram vários cortes orçamentários no âmbito nacional que causaram consequências profundas para o funcionamento das universidades públicas brasileiras. Os colégios de Aplicação e Escolas Técnicas estão com os menores recursos dos últimos anos, inviabilizando várias obras estruturais, bem como aquisição de novos materiais. Além disto tudo, tais cortes afetam a manutenção da alimentação escolar, bolsas de iniciação científica, pesquisas de campo etc.

O Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) enviado pelo presidente Bolsonaro ao Congresso Nacional em 31 agosto mostra que os maiores cortes são na Educação Infantil, que tem projeção de R$5 bilhões para 2023 – uma redução de 96% comparado ao ano de 2021. Além disso, o governo propôs para 2023 um corte de R$ 1,096 bilhão no programa “Educação básica de qualidade” em comparação com 2022. Vale destacar que, além da redução do orçamento previsto para o ano que vem, quando retirada a complementação do FNDE, que está fora do teto de gastos, a previsão de recursos para a educação no orçamento cai mais de R$7 bilhões.

Os recursos que estavam previstos no Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) foram cortados em 40% do orçamento discricionário da pasta aprovado para este ano na Lei Orçamentária Anual (LOA).

Apesar do cenário dramático, a educação pública resiste. Desde o primeiro ano do governo Bolsonaro várias entidades da educação tomaram as ruas em defesa da democracia, contra os cortes orçamentários nos Tsunamis da Educação, reunindo milhares de pessoas que acreditam que a educação de qualidade é essencial para o desenvolvimento do país.

Defendemos a educação pública, gratuita, laica e socialmente referenciada. Acreditamos também na escola como espaço de pluralismo de ideias e respeito às diferenças. A escola como espaço democrático deve reconhecer, acolher e respeitar as múltiplas religiões, a identidade racial, a sexualidade e o gênero de todas as pessoas. Acreditamos num futuro solidário, fraterno e aberto às diferenças como característica humana.

Os servidores e as servidoras do Colégio Universitário da Universidade Federal do Maranhão que assinam essa carta compreendem que o momento exige combater a política de ódio e violência representada pelo atual governo e que, para superar essa página triste e infeliz da nossa história, devemos eleger Lula no segundo turno.

Assinam o manifesto:

Aldenora Resende dos Santos Neta
Ana Carolina Abrão Neri
Ana Caroline Pires Miranda
Anizia Araujo Nunes Marques
Bartolomeu Rodrigues Mendonça
Beatriz de Jesus Sousa
Belmiro Ferreira dos Santos
Camila Fernanda Pena Pereira
Carolina da Silva Portela
Cláudia Simone Carneiro Lopes
Claudio Anselmo de Souza Mendonça
Conceição Vasconcelos
Cristiano Capovilla
Edna Selma David Silva
Ednete Gomes Monteiro
Fernanda Vanessa de Jesus da Silva
Antonio Higor Gusmão dos Santos
Ilana Mirian Almeida Felipe
Ione Marly Arouche Lima
Janilson José Alves Viegas
Jaldyr de Jesus Gomes Varela Junior
Joaquim Ribeiro de Sousa Filho
José Alberto Pestana Chaves
José Angelo Cordeiro Mendonça
José de Arimatea Abreu
Jorge Milton Ewerton Santos
Larissa Melo Chaves
Ludmila Portela Gondim Braga
Luiz Alberto Ferreira
Luiza Carvalho de Oliveira
Marcia Cristina Costa Pinto
Marcone Antônio Dutra
Maria de Jesus Avelar Silva
Maria de Fátima Sousa Cartágenes
Maria da Conceição Lobato Muniz
Maria Cléa Muniz de Abreu
Maria Jandira de Andrade
Maria Teresa Lyra Lopes
Maria Teresa Rabelo Rafaell
Mariana Leis Balsalobre
Marilea de Jesus Mendes Everton Pinho
Micael Carvalho dos Santos
Michele Prazeres 
Nilia Feitosa de Alencar
Noé Nicácio Lima
Nonato Chocolate
Ozeas Rodrigues Lobato Filho
Osvaldo Francisco Santana
Paulo Sérgio Castro Pereira
Raimundo Inácio Souza Araújo
Raimundo Pedro Nery dos Santos
Raquel Pires Costa
Saulo Barros da Costa
Samya Helena dos Santos Ribeiro
Ricardo Monteles
Thiago Augusto dos Santos de Jesus
Thiago Lima dos Santos
Ulisses Denache Vieira Souza
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Organizações retomam vigília cívica no 2º turno

Fonte: Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo)

Começou nesta sexta-feira (28.out.2022) a segunda vigília cívica que busca barrar tentativas de tumultuar as eleições e uma ruptura institucional. Articulada por organizações da sociedade civil, a iniciativa é um movimento não partidário que reúne juristas, pesquisadores, professores, empresários, advogados, ativistas e vários outros profissionais que defendem a soberania do resultado das urnas.

Mais uma vez, organizações da rede do Pacto pela Democracia, da qual a Abraji faz parte, vão atuar em 15 frentes para ajudar todos os trabalhadores e cidadãos envolvidos no segundo turno. Assim como no primeiro turno, o grupo monitora e está preparado para mobilizar ações ao longo de todo o dia. A Abraji também vai acompanhar casos de violação às liberdades de imprensa e de expressão diretamente da sede da OAB em São Paulo.  

vigília cívica reúne diversas entidades como Comissão Arns, Comitê de Defesa da Democracia, Coalizão em Defesa do Sistema Eleitoral, Conectas Direitos Humanos, Democracia em Xeque, Direitos Já!Instituto Ethos, Fundação Tide Setubal e Transparência Internacional.

O ato de abertura desta sexta-feira reuniu nomes como a socióloga e banqueira Neca Setúbal, o diretor da Faculdade de Direito da USP, Celso Campilongo, o jurista José Gregori, a presidente da OAB-SP, Patricia Vanzolini, e a escritora e jornalista Bianca Santana. Ex-ministros da Justiça e do Supremo Tribunal e a ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge mandaram vídeos com depoimentos.

“Nosso movimento não para aqui. Vai continuar até a posse e nos primeiros meses do novo governo”, lembrou José Gregori. “Não vamos ter a ilusão de descanso semana depois do pleitol”, completou. A presidente da OAB pontuou que as reuniões começaram como uma resposta aos ataques institucionais, narrativas de golpes, tentativas de descredibilizar as urnas e o crescimento das milícias digitais.

Abraji e outras organizações ligadas ao jornalismo

No fim de semana, sindicatos de jornalistas de todos os Estados estarão de plantão para atender jornalistas envolvidos na cobertura. 

Reunidos em encontros quinzenais desde abril, representantes de 10 organizações têm feito um mapeamento dos principais ataques e riscos contra jornalistas durante o ciclo eleitoral. São elas: ARTIGO 19, Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Intervozes, Instituto Palavra Aberta, Instituto Vladimir Herzog, Repórteres sem Fronteiras (RSF) e Tornavoz.

Abraji também vai acompanhar casos de violação às liberdades de imprensa e de expressão diretamente da sede da OAB em São Paulo. Denúncias podem ser feitas pelo email abraji@abraji.org.br. A Abraji vai compartilhar informações com outras nove organizações ligadas à imprensa que também estarão de plantão de forma remota.

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Intercom assina carta coletiva pela democracia e liberdade de expressão

A Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), como entidade integrante do Conselho Deliberativo da Federação Brasileira de Associações Científicas e Acadêmicas da Comunicação (Socicom), é signatária do manifesto “Pela ciência, educação, liberdade de expressão e de cátedra e democracia, é urgente derrotar Bolsonaro no 2º turno”, divulgado na última segunda-feira (24/10) pela União Latina de Economia Política da Informação, Comunicação e da Cultura – Seção Brasil (Ulepicc Brasil) e assinada por outras 29 entidades.

Confira a íntegra do texto a seguir, ou acesse o site da Ulepicc Brasil.

PELA CIÊNCIA, EDUCAÇÃO, LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DE CÁTEDRA E DEMOCRACIA, É URGENTE DERROTAR BOLSONARO NO 2º TURNO

Brasília, 24 de outubro de 2022

Em poucos dias, o Brasil irá escolher seu próximo presidente. A vitória de Jair Bolsonaro traria ainda mais riscos à ciência, educação, liberdade de expressão e de cátedra e à democracia.

Um segundo mandato do candidato à reeleição pode significar um novo patamar no desmonte da já frágil democracia brasileira, na destruição do Estado e das políticas sociais, no ataque às liberdades, no aumento das desigualdades e na ampliação da violência política contra segmentos minorizados e democratas.

Para além de colocar o país em uma crise econômica e social, ao longo de seu mandato, o atual presidente constantemente atacou a educação e, em especial, as atividades realizadas pelas universidades.

Entre 2019 e 2022, o Governo Federal cortou drasticamente o orçamento da educação no país. Nas últimas semanas, seu governo chegou a bloquear de tal maneira o orçamento do setor que inviabilizaria o funcionamento de universidades e de institutos federais, medida alterada após intensa revolta e mobilização da comunidade acadêmica.

Como ressalta a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Bolsonaro fez da ciência e da pesquisa suas inimigas. Reduziu o orçamento da área, levando o MCTI ao menor orçamento em 2021 das últimas duas décadas.

A SBPC também mostrou a necessidade de a comunidade científica reagir a ações do atual governo que têm colocado a liberdade de cátedra em xeque em função de constrangimentos atravessados por professores nas salas de aula e em suas atividades de ensino, pesquisa e extensão

Durante a pandemia associada ao coronavírus, tentou a todo custo desacreditar cientistas brasileiros e estrangeiros sobre os métodos de combate à covid-19.

A postura negacionista, o atraso na compra das vacinas, a ridicularização da morte e o sofrimento de familiares das vítimas são algumas das marcas deixadas pelo atual governo na condução da crise sanitária no país.

Bolsonaro fez a liberdade de expressão de alvo, tentando subvertê-la para a autorização de mentir ao elevar a desinformação do submundo das redes sociais à estratégia de comunicação de governo, difundindo informações manipuladas e falsas em seus canais institucionais e aparelhando a Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Igualmente, o atual presidente fez campanha sistemática contra o jornalismo e seus profissionais, especialmente, as jornalistas mulheres.

A organização internacional Repórteres sem Fronteiras colocou o presidente na sua lista de “predadores da liberdade de imprensa”.

Em síntese, Bolsonaro ameaça o sistema democrático brasileiro. O atual mandatário, reiteradas vezes, defendeu a ruptura institucional, conclamando uma intervenção militar e mobilizando seus apoiadores contra a Justiça Eleitoral, contra o sistema de votação, contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e contra qualquer tipo de opositor.

Com uma retórica do ódio, o presidente estimula sua base a atos de violência política contra indivíduos e coletivos que pensam diferente.

O governo Bolsonaro significou a piora das condições de vida da população. A fome voltou a aumentar, assim como o desemprego, enquanto a renda do trabalho cai continuamente.

Diante desses fatos, não é possível ignorar os riscos à sociedade brasileira de um segundo mandato do presidente.

Por isso e diante de suas responsabilidades institucionais, as entidades científicas e acadêmicas e as(os) pesquisadoras(es) abaixo relacionadas(os), recomendam que as(os) eleitores(as) brasileiras(os) votem Luiz Inácio Lula da Silva à presidência no Segundo Turno das Eleições Presidenciais que acontece em 30 de outubro de 2022.

Atenciosamente,

União Latina de Economia Política da Informação, Comunicação e da Cultura (Ulepicc Brasil)

Conselho Deliberativo da Federação Brasileira de Associações Científicas e Acadêmicas da Comunicação (SOCICOM)

Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo (ABEJ)

Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia (Alcar)

Associação Brasileira de Pesquisadores em Publicidade e Propaganda (ABP2)

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós)

Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação (ANCIB)

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped)

Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia(ANPEPP)

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (ANPOLL)

Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI)

Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (ABRAPEC)

Associação Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho (SBPOT)

Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE)

Associação Brasileira de Ensino de Biologia (SBENBIO)

Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS)

Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO)

Associação Brasileira de Psicologia Política (ABPP)

Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN)

Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos (SBEC)

Associação Brasileira de Professores de Língua Inglesa da Rede Federal de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (ABRALITEC)

Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD)

Laboratório de Políticas de Comunicação (LaPCom-UnB)

Centro de Pesquisas e Produção em Comunicação e Emergência (EMERGE)

Observatório da Ética Jornalística (objETHOS)

Observatório Cultural da Amazônia e Caribe (Amazoom)

Agência de Notícias de Direitos Animais (ANDA)

Laboratório de Pesquisas em Economia, Tecnologia e Políticas de Comunicação (Telas) Laboratório de Pesquisas em Economia Política da Comunicação e Crise do Capitalismo (CUBO)

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Pega na mentira!

Eloy Melonio é contista, cronista, letrista e poeta.

Bem que a “arte de mentir” podia se transformar em ciência, tal qual a filosofia e a sociologia. A princípio, parece uma coisa absurda, mas…¹

Essa ideia me afetou sobremaneira quando percebi que a palavra “mentira” assumia cada vez mais o protagonismo na campanha eleitoral para presidente da República deste ano. E ela só não entrará para a lista das mais consultadas em 2022 por tratar-se de um termo comum da nossa língua.

A verdade é que todos nós mentimos um pouquinho aqui, um pouquinho ali. Levante uma das mãos quem nunca mentiu! As duas, quem mente apenas de vez em quando! Calma, gente! Não vou pedir pra ninguém ficar de pé e se reconhecer um mentiroso nato.

Essa constatação me fez lembrar um livro de inglês que definia “white lie” (mentira branca) como aquela “mentirinha” que não ofende, não machuca e não causa danos.

Desde muito cedo, aprendemos com nossos pais o verdadeiro significado da mentira: Você não está mentindo, está? E sobre ela — aqui, uma personagem — há muito a falar. Artista ou cientista? Para os mentirosos contumazes, é artista, pois mentem com arte e naturalidade.

Na arena das campanhas eleitorais, verdade e mentira tradicionalmente se defrontam. E, na troca de acusações, o lado podre da política se camufla, e “todos” se apresentam como os verdadeiros defensores dos famigerados pobres e oprimidos.

Engana-se quem ainda pensa que a Mentira tem pernas curtas. Há muito já trocou suas perninhas por dedinhos ágeis no clicar das teclas do notebook e do celular. Hoje — além das palavras — leva consigo fotos e vídeos de seus desafetos. E, assim como “a fé move montanhas”, a mentira atinge em cheio a reputação de seus alvos. Nem sempre no endereço certo, porque isso não está acima dos interesses em jogo.

Em “Pega na Mentira” (1981) Erasmo Carlos faz uma gozação com a nossa personagem, invertendo verdades incontestáveis (“Vi Papai Noel numa favela/ O Brasil não gosta de novela”). Por sua vez, Tim Maia, em sua “Vale Tudo” (1990), poderia facilmente trocar “homem e mulher” por verdade e mentira, porque essas duas também não dançam o mesmo funk num mesmo salão.

E se, em ano de eleição, trocássemos a data de “primeiro de abril” para o primeiro domingo de outubro? “Não, não, e não! Uma ideia condenável”, diria o presidente do Superior Tribunal da Política.

Impossível é não perceber que a Mentira nunca foi tão cobiçada como nestas eleições. E que essa disputa é para ver quem consegue usá-la da maneira mais criativa, com o maior poder de destruição. E olha que a pobrezinha ralou muito para chegar a essa posição de destaque. Seu “pai” deve estar orgulhoso da filha que já foi muito condenada. E, que — de forma irreversível — atingiu um alto grau de empoderamento.

Não se pode menosprezar a força inspiradora da Mentira — hoje uma das mais solicitadas influenciadoras digitais, com milhões de seguidores.

Um dos candidatos ao pleito de 30 de outubro dá uma explicação que lhe foi passada por sua mãe: “A verdade engatinha, a mentira voa”. Só que “voar”, naquela época, não chegava perto do que acontece nesta era digital. Sem limites de velocidade ou alcance, a Mentira voa alto em todas as direções na companhia dos mais desprezíveis princípios morais e éticos.

Nunca em sua história, a Mentira esbanjou tanto “ódio” como nesta campanha eleitoral. Sim, porque ninguém fala de suas próprias mentiras. O mentiroso é (e sempre será) o outro. No marketing eleitoral, a acusação, muitas vezes, não tem sustentação. Mas — uma vez lançada — dificilmente dá meia volta. Recentemente, vi um vídeo em que um “especialista” falava sobre a necessidade de o político praticar e aprimorar sua habilidade para mentir. Ao final, a clássica conclusão: “Se você não aprender, você está na seara errada”.

O resultado de um curso de tão baixo nível moral são candidatos prometendo transformar pedras em pães e suor em vinho. E tudo deve parecer previsível e viável, acessível e fácil.

Foi justamente nesse embalo do “mente aqui, mente ali” que eu pensei na criação da “mentirologia”. O termo seria formado da união de duas palavras de origem diferente: “mentiri”, do satanêsinventar, e “logia”, do grego estudo.

Como numa valsa improvável (mentira pra cá, verdade pra lá), a dança política segue seu ritmo falacioso. Nem candidatos nem eleitores sabem aonde isso vai dar. E, livre de amarras, a Mentira cruza os espaços digitais das nossas tevês e smartphones a todo instante. Dia e noite, noite e dia — descaradamente! Se duvidar, já suplantou as malfaladas “ladrão” e “corrupto”  — donas do pedaço desde que criaram essa classe de representantes do povo.

No teatro da arte política, a Mentira assume um papel de invejável força assertiva. “Você é um mentiroso”, diz um acusador. Desse jeito, na bucha. Seja a vítima um senhor ou uma senhora com mais de setenta anos. E, aí, outra constatação simplista: a Mentira não tem idade, e nem carteira de identidade.

Quando assisto ao horário gratuito na TV, imagino-me dirigindo numa velha estrada  esburacada — uma espécie de “déjà vu”. Mesmo assim, assusto-me com a sinalização: curva mentirosa à esquerda, abismo enganoso à direita, lombada corrupta a 200m. Só me sinto calmo e seguro quando vejo uma placa branca com letras verdes: parada obrigatória para reflexão (com chá ou café).

Voltando à “mentirologia”, o estudo da mentira como fenômeno social poderia evoluir e desvendar os mistérios da coletividade mentirosa (atores e plateia). Modernamente, em nosso dialeto político, nossa anti-heroína já tem alguns primos e primas igualmente populares: ilação, narrativa, factoide — e a já consolidada anglo-brasileira “fake news”.

Nesse cipoal de “palavras” tresloucadas, impressiono-me com a capacidade de a Mentira ora se vestir com o branco da verdade, ora sujar a verdade com as cores rubras de sua alma.

Peço-lhe agora compreensão sobre o que vem a seguir. Nada mais que uma paráfrase digna de um mentiroso de alto nível: “Quem mente e ofende, e se perde nessa disputa, é otário ou um verdadeiro filho da puta”.

Arte, sim; marketing, não. Não se pode mais aceitar o vale-tudo desse monstro. Muito menos aplaudi-la ou idolatrá-la. Porque “barato não é o marido da barata”. E, assim, Erasmo e Tim estão perdoados sob a mediação de Fernando Pessoa (“O poeta é um fingidor”). Os marqueteiros — diabinhos por trás das cortinas — condenados a “cem anos de solidão”.